sábado, 29 de março de 2008

Nas escolas: Indisciplina ou CRIMINALIADE

Ainda que sentisse vontade, sem saber muito bem porquê, não escrevi nada sobre o tema que nos tem trazido presos aos meios de comunicação social - não me refiro à descida do dólar face ao Euro, ao aumento dos juros da habitação, a descida do preço do petróleo em bolsa, por troca com o dos bens essenciais, da prisão do assassino da Mariluz, nem tão pouco a descida de um ponto percentual no IVA na sua taxa mais alta, nada disso!

Falo-vos da agressão no “Carolina Michaelis”. Mas agora percebo porque consegui controlar os meus impulsos. Estive à espera que os “meninos” envolvidos se despedissem uns dos outros depois de conhecerem o castigo.

E então sim, veio aquela vontade incontrolável de partilhar convosco o que penso sobre o assunto.

É claro que a minha mente já está infectada. Já ouvi muita gente dizer muita coisa. Contudo, retive uma que considero importante:
Este caso é a ponta de um iceberg!
Depois da grande manifestação em Lisboa, depois das escolas ameaçarem não cumprir as orientações, relativas à avaliação de professores dentro dos prazos impostos pelo Ministério; o Primeiro-Ministro ainda vai colocando a mão por baixo à Ministra da Educação.

Segundo o Expresso, vá-se lá saber como!? Maria Leonor Rodrigues, conseguiu, Inscrever os seus números, sobre violência nas escolas, no Relatório de Segurança Interna relativo a 2007, em detrimento dos números das Policias. Não entendo, dado que se trata de um Relatório de Segurança e ao que sei, o Ministério da Educação, não faz parte de nenhum Grupo de Trabalho ao nível de Ministros. Mais um exemplo grave, muito grave de tratamento de dados para fazer favores a Ministros.

Porém a Ministra hoje perde pontos na sua política do “eu é que sei!”.

Salve-nos o Senhor Presidente da Republica que sendo ele e a esposa Professores, conhecem a realidade muito melhor que a Ministra e o Primeiro-Ministro. O PR, mal pôs um pé em Portugal (depois da visita a Moçambique, aliás, muito focalizada na escola e no ensino) pediu para ver as imagens que nos têm chocado (da aluna a agredir a professora, na frente da turma e a ser filmada), e com o objectivo de debater o assunto do ponto de partida que ele deve ser discutido o da CRIMINALIDADE, mandou chamar o PGR o mesmo que tem tido uma atitude firme e precavida perante estas situações, em oposição à Ministra e aos séquitos que dizem: - Não se passa nada! - Está tudo bem! O Senhor PGR é uma alarmista.

Infelizmente a Senhora Ministra, sem que eu consiga entender muito bem as ligações, tem contado com o apoio do Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que desvaloriza o tratamento, pelo direito criminal, destes ACTOS CRIMINAIS. Este Senhor também deve ter aí prometidos uns apoios para voos mais altos; ele até já defendeu, em público, que o Processo Casa Pia foi para decapitar o PS!?

Na defesa da Ministra saem também os pedopsiquiatras e psiquiatras, claro! Estes são mais fáceis de entender. Quantos mais miúdos e adolescentes crescerem em ambientes de medos, violência e desamparo, mais potenciais clientes, certo!?

Sou pai. Tenho dois filhos que conheço como educados, contudo, se eu soubesse que um filho meu estava envolvido em algo do género daquilo que vi e levei uma semana a digerir, garanto-vos que pregava um castigo digno da sua falha em frente dos seus “amigos”. Os que assistissem ficariam com a ideia que com alguns pais não podem fazer tudo o que querem, quando querem, porque querem. E nós, pais, não podemos condescender pois caso contrário, não estamos a criar o futuro, estamos a criar o caos.

A sociedade não pode ter contemplações com estes comportamentos. Vejam que depois de serem castigados, os “meninos” ainda mancham a imagem da professora ao referirem-se a ela de uma forma depreciativa e ofensiva.

Só espero que os Senhores Juizes que forem julgar os “meninos” envolvidos neste caso, não afinem as suas opiniões pelo Bastonário da Ordem dos Advogados, nem dos Pedopsiquiatras e tenham em cima da sua mesa, não só o filme como também as mensagens de despedidas destas “crianças”.

Confesso: depois de uma semana a ver as imagens, até já estava mais ou menos anestesiado, agora depois de ter tido acesso às mensagens de despedida entre os meliantes a minha vontade de vomitar ressurgiu e nada me pode convencer a perdoar estes ESTAFERMOS.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde,
O episódio que aqui é comentado – agressão de um aluno à professora – é, a meu ver, o espelho da nossa sociedade. Esta sociedade que perdeu o respeito pela(s) autoridade(s), que perdeu o respeito pelas pessoas mais idosas, e também que perdeu o respeito pelos professores.

Poderíamos dizer que estes intervenientes (os que neste momento mostram as tais faltas de respeito) têm bons exemplos (a forma como os reformados são brindados com pensões de miséria, como se encerram serviços hospitalares sem qualquer informação ou preparação prévia prejudicando os mais necessitados, as aventuras e desventuras de um sistema judicial que permite que alguns culpados fiquem sem punição, etc. etc.).

Não pretendo, com esta minha humilde forma de ver o problema, ir por este caminho.

Gostaria apenas de relembrar que na escola “dá-se” instrução e em casa, e desde pequenino, que se dá educação. Ora é precisamente aí que as coisas começam a falhar. Cada vez mais as crianças têm um acompanhamento escasso e defeituoso por parte dos pais, cada vez menos as crianças são castigadas por falhas que cometem, porque os pais estão ausentes quando é necessário, e posteriormente já rapazolas sentem-se capazes de gritar e tirar, à força, um telefone da mão da professora.

Certamente que esta aluna, e todos os outros alunos que têm atitudes destas ou semelhantes nas salas de aula são culpados. No entanto também deveríamos responsabilizar uma sociedade que impede que os pais dêem o devido acompanhamento aos seus filhos.

E já agora a professora também não esteve bem. Enquanto autoridade máxima na sala de aula deveria apenas ordenar que a aluna e o seu telemóvel abandonassem a sala de aula, nem que para isso fosse necessário recorrer à auxiliar da escola, ao conselho directivo ou em último recurso à PSP, mas descer ao nível do aluno e entrar num confronto físico pela posse de um artigo que indevidamente entrou na sala de aula, também não me parece muito bem.

José Bragança

Anónimo disse...

Caro Júlio
Profecia muito antiga rezava assim :"Quem vier a nascer em Portugal, ou será por castigo ou por ter uma missão a cumprir". Ao fim de tantos anos, chegamos à conclusão que somos uns milhões de castigados porque o tal "missionário" ainda não apareceu para por ordem na casa. O "crime" da aluna que tentou impedir a recolha do telemóvel, só se tornou notícia (até a nível de PR!)porque um colega filmou e colocou em local público o incidente. Caricato que até agora casos gravíssimos de droga, agressões com armas brancas e de fogo, chantagens, ajustes de contas em plena escola feitos por PAIS DE ALUNOS a professores que admoestaram ou deram um puxão de orelhas aos seus queridos filhinhos, etc. etc. não tenham tido o relevo merecido. A atitude do aluno que colocou na internet o vídeo, sinal extremo de atentado à vida privada tanto da professora como da aluna, é, a meu ver, mais grave. Tem no entanto uma grande atenuante...obrigou a desenterrar a cabeça da areia e abrir os olhos a uns milhões de pessoas neste país. Esperemos que os condenados não sejam estes alunos, vítimas de uma sociedade criada por adultos irresponsáveis, e que infelizmente piora de dia para dia. Filho de professor, que foi também reitor e chefe dos serviços de educação, irmão de professora (felizmente por período curto), cunhado de professores, amigo de muitos professores, eu próprio professor durante uns tempos (nas escolas regimentais,na tropa, diga-se de passagem!) e membro de associação de pais durante vários anos...e antes de isto tudo ter sido também aluno(!), assisti à degradação do ambiente escolar ao longo dos anos. E sei que tal degradação não é da responsabilidade dos jovens. O modelo de sociedade, de família, de valores em que actualmente as crianças crescem não lhes dá a mínima hipótese um crescimento são. É fácil aos responsáveis apresentar agora a resolução deste caso tranferindo os alunos de escola. No entanto, outros casos virão a lume. E cada vez piores (não é péssimismo, mas sim realismo).
Há anos atrás colega minha, muito devota e religiosa, mas que a única tarefa diária era a de assinar o ponto, descaiu-se com esta " Ai, ai, o maior pecado é a preguiça". Sem interromper o meu trabalho, respondi-lhe: "Engana-se, Isabelinha (era mesmo esse o seu nome), não há pecados grandes nem pequenos. E não há pecados, pois o pecado é apenas um: A falta de respeito pelo nosso semelhante. Para a senhora estar aí a receber um ordenado sem fazer nada, é porque há alguém a trabalhar o dobro para o "patrão" lhe poder pagar o seu".
O mal da nossa sociedade resume-se nisso: A falta de respeito que temos pelos outros. Ensinemos aos jovens (com bons exemplos) esta máxima e as coisas hão-de melhorar. De contrário, não serão grupos de trabalho e horas perdidas em entrevistas televisivas que irão melhorar a situação.

João Firmino

zepaiva disse...

Júlio:
Sabendo que a tua preocupação com a situação das escolas é genuína, cometes na minha opinião, alguns erros de análise nuns casos, e noutros o “pecado” de cegares por questões partidárias. Então vamos ao assunto:
1- Esta questão não devia servir de arremesso partidário, porque a haver culpados eles seriam todos os ministros respectivos que ocuparam o cargo (cerca de 30 desde o 25 de Abril, ou seja quase um por ano ...) e a maioria por acaso até foram do PSD. E refiro isto de propósito para dizer que podia utilizar a lógica de muita gente mais interessada em jogos eleitorais do que em resolver um problema, e proclamar alto e bom som que, afinal, o PSD é que é o principal culpado. Seria tão demagógico, errado, redutor e de análise limitada, como dizer que o que se passa agora nas escolas é culpa deste governo ou desta ministra, para onde me parece que por vezes resvalam as tuas posições.
2-Porque mencionas o Presidente da República como o redentor que vai pôr isto na ordem, informo-te que o teu tiro sai completamente ao lado! O Cavaco não só apoia como admira a ministra sendo neste momento, ao que consta, um dos principais suportes da manutenção da senhora no cargo. Basta aliás ler afirmações de David Justino ex ministro da educação, que é, como sabes, o actual assessor da Presidência da República para os assuntos ligados ao ensino, que se tem referido por mais que uma vez de forma elogiosa à ministra. Vou-te referir algumas:

David Justino defende Governo que é "arrasado" pelos sindicatos
Os ministérios da Educação e do Ensino Superior - duramente criticados pela Fenprof no mesmo dia em que o ex-ministro David Justino saiu em defesa de Maria de Lurdes Rodrigues
JN Agosto 2006

"Não imaginam o quanto se torna penoso ouvir alguns discursos sobre o 'actual' estado da educação em Portugal. Alguns deles chegam a raiar a ignorância compulsiva e uma incrível falta de imaginação, até para melhor disfarçar essa ignorância"
“Sobre as últimas semanas - em que houve um crescendo de contestação à ministra Maria de Lurdes Rodrigues, com uma manifestação de professores de cerca de 100 mil pessoas, David Justino garante que se transformaram "numa insuportável 'bancada central' [alusão ao programa de rádio, aberto aos ouvintes] onde todos têm o direito a emitir opinião, todos se sentem capacitados para 'achar' sem que se note qualquer laivo de sensatez, conhecimento e de rigor sobre aquilo que se 'acha'."
David Justino chega ao ponto de escrever que o tal "actual" estado da educação o levou a recorrer aos escritos de Oliveira Martins (historiador, jornalista, político e figura da Geração de 70), que aliás cita: "O grande defeito do ensino oficial português está em que os compêndios são maus, os professores piores, e os programas, trasladados das escolas europeias, seriam excelentes por vezes, se não fossem puras hipóteses burocráticas".
Palavras que remontam a 1888 mas nas quais David Justino parece rever-se. "Tudo é tão recorrente. Andamos há muito mais de um século a dizer o mesmo e o que é mais grave é que acreditamos naquilo que dizemos", diz o actual assessor de Cavaco Silva, num post que pode ser considerado de apoio tácito à ministra.|
DN 19/3/2008
3- Este caso é a ponta do iceberg! Proclamas tu a determinada altura, como se por detrás disto houvesse algo monstruoso que é ocultado, quiçá uma batalha sangrenta em cada escola, talvez uma guerra civil quotidiana em cada estabelecimento, ou, quem sabe mesmo se, secretamente, não irão todos os finais de dia brigadas especiais recolher os cadáveres putrefactos aos pátios de cada C+ qualquer coisa ... Por amor de Deus! Lembro-te só o caso do tristemente célebre arrastão, afinal um inventão, um dos maiores embustes jornalísticos produzidos pela nossa imprensa. Aliás, sugiro-te fazeres uma coisa simples: vai ao youtube e faz uma busca com as palavras: “violência nas escolas”. Eu fiz essa busca há 4 ou 5 dias e encontrei videos de violência em vários países, principalmente no Brasil (aqui os profs são mesmo heróis), mas também nos EUA, na França etc, de Portugal encontrei ... 1 (um)! Isso mesmo: só um (1) foi aquele que passou a toda a hora durante vários dias, a abrir todos os telejornais, foi notícia de 1ª pág dos jornais e etc. Repara bem que os ingredientes eram perfeitos: uma adolescente espigada histérica e malcriada, bem maior que uma professora com dificuldades em afirmar a sua autoridade, de quem aliás os jornalistas (miseravelmente ...) não têm o mínimo pudor em linchar publicamente ao mostrar as primeiras imagens sem cuidar de turvar a imagem, uma cena ridícula de disputa de posse dum telemóvel, e uma voz off dum puto igualmente malcriado que comenta grosseiramente o que se vai passando. A partir daqui especulemos, anunciemos o caos e a hecatombe que se avizinha ...
4 – Criminalidade e actos criminais referes ainda. Aqui confesso que fico perplexo e abismado ao considerares isto, ou seja esta situação particular, um CRIME a ser julgado nos tribunais. Ou seja uma situação que é de indisciplina escolar, grave sem dúvida, mas que é todavia de indisciplina, não pode nem deve ser transformada em crime sob pena de se subverter por completo a escala de valores em que vivemos! Se se partir daqui então o que é que se faz a um indivíduo apanhado a roubar no supermercado ou a roubar um carro? Abate-se logo ali? E um indivíduo a vender haxixe à porta da escola? Enforca-se no páteo? Haja bom senso!
5 – É sintomática a expressão que usas no teu último parágrafo: “depois de uma semana a ver as imagens”. É que é isto mesmo! Uma semana a ver sempre as mesmas imagens! E estas imagens que foram sempre as mesmas, repito, sempre as mesmas, e que se passaram numa única escola, e que foram tiradas do único videotube do youtube que contem cenas de violência em escolas portuguesas, à força de tão repetidas produziram na sociedade a sensação (e para muitos a certeza) de que o ambiente geral das escolas é um ambiente de violência generalizada e de selvajaria indiscriminada! Os shares e respectivas receitas de publicidade agradecem.
6 – Não pretendo com isto alijar o facto da gravidade de situações que se passam nas escolas. Eu sei muito bem que elas existem (embora não no grau nem na dimensão que alguns pretendem) e devem de ser discutidas e resolvidas. A pior maneira de (não) as resolver é utilizar a especulação e o sensacionalismo que só servem para alienar as questões essenciais e alimentar o voyerismo.
Voltarei ao assunto. Aquele abraço.

Júlio Santos disse...

Não pretendi partidarizar este assunto e, se queres saber também não me parece bem que o façam. Agora, falar e discutir um tema não é propriamente levá-lo para o campo de batalha partidário. O PSD como candidato a partido do Governo tem obrigação de comentar e de apresentar as suas propostas de solução para os mais variados problemas que são discutidos na sociedade civil e este foi, sem margem para dúvidas, o assunto mais discutido dos últimos dias.
Pergunto: e se o PSD não tivesse abordado o assunto? – Se calhar ainda diziam que por ser na zona do Porto o L.F. Menezes achava bem!?
Mudemos de abordagem.
Saberás tu e os que nos lêem que o Povo encerra sempre sabedoria nos seus ditos. Ora, o Povo diz: “de pequenino é que se torce o pepino”. A sabedoria deste dito está no facto de que de pequeno é que, entre outras coisas, se educa.
Fiquei, fico e ficarei chocado com aquela cena. Aquela menina e as (os) que se comportam assim nas aulas têm de ser castigados. Não vou tão longe como tu, de os prender ou enforcar, mas que deveriam ir perante um Juiz deviam! Os juízes (bem ou mal) representam a Justiça da Sociedade e perante comportamentos anti-sociais a Justiça tem e deve actuar.
Se o castigo deveria estar consignado no Código Penal e não está!? Não sei, mas concordo em pleno com o Procurador-geral da Republica quando este afirma - não me parece ser pessoa para falar de cor -: a criminalidade juvenil tem um enfoque na escola!
Negar isso é negar a realidade. Claro que as armas não vêm da Escola cá para fora, vão de fora para dentro como diz o Secretário de Estado, mas estou convicto, até pelas suas características, que é no espaço escolar, ou na sua envolvente que são planeados grande parte dos pequenos delitos praticados pelos jovens.
Que a Escola enquanto instituição não pode nem deve ser penalizada? – Não pode!
Mas escamotear esta realidade é como regá-la e proporcionar-lhe condições de crescimento. Por isso defendo que antes que chegue ao ponto de ter putos de 8-10 anos a planear sequestrar a professora, prefiro castigar EXEMPLARMENTE as meninas(os) mais velhos que têm acções como aquelas da Escola do Porto.
Como vais voltar ao assunto, também voltarei. Um Abraço