quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“CC” de Cartão de Cidadão ou de “Cravo Cravado”

Vou partilhar convosco mais uma das minhas odisseias.
A minha análise recai sobre o tão anunciado Cartão de Cidadão. Que no meu entender face à forma como está a decorrer a sua emissão é mais um “Cravo Cravado” nas “Novas Tecnologias” apregoadas pelo Governo a exemplo de outros projectos como: e-escola, “Magalhães” e tantos outros projectos de um Plano Tecnológico falido de meios e objectivos. Na maior parte das vezes porque quem os implementa se esquece de envolver as pessoas que os vão colocar em prática.

O relato dos factos:
- No dia 30 de Dezembro de 2009 decidi, na companhia do meu núcleo familiar, tratar do Cartão Único;
- Como sei que existe informação disponível na internet sobre o assunto recorri a esta “ferramenta”, mais propriamente ao GOOGLE e à questão “Cartão do Cidadão”, Nos resultados apresentados escolhi: Lisboa;
- Fui agradavelmente surpreendido pela informação que a página:
http://www.cartaodecidadao.pt/ continha. Para além dos locais na Capital onde podia tratar do assunto, facultavam-me os tempos de espera;
- Seria “tolo” se não escolhesse aquele que apresentava um menor tempo médio de espera (11 minutos) na Conservatória de Registo Automóvel de Lisboa na Rua Mouzinho da Silveira, 34;
- Chegados ao local às 11:37h, retirámos as senhas 126, 127 e 128, quando reparámos no quadro de chamada, estava o número 61, 15 minutos depois, chamaram o 62;
- Eram 11:40H, perto de nós estava uma senhora de idade que dizia (alto e bom som) ao seu interlocutor,”…estou aqui desde as 9:00h, e tenho 20 pessoas à minha frente…;
- Aí percebi que tinha sido enganado. A informação que tinha recolhido em casa, antes de sair era enganosa;
- Tentei falar como uma Senhora que atrás do balcão se deslocava a tratar de algo. Resposta pronta (à Funcionário Público): “isso não é comigo!”, quando a informei que pretendia reclamar por escrito, muito solícita respondeu: “para isso está aí a Chefe!” e foi chamá-la;
- Quando a tal “Chefe” apareceu e a colocaram ao corrente da minha pretensão: “…Está aí um senhor a dizer que está escrito na net que o tempo de espera é 11 minutos…” informou-a uma outra Funcionária, obteve-se uma resposta pronta (à Chefe), “isso não pode ser!”
- Lá disse à Senhora Chefe o que tinha lido e onde, mas obtive como resposta: “…se quer reclamar por escrito, reclame, mas não sou obrigada a ouvi-lo…”. Facultou-me o Livro de Reclamações que mais tarde vim a verificar que não sabia utilizar. Enquanto preenchia a reclamação a Chefe efectuou uma ligação telefónica para a “DOUTORA”;
- Insistiu que eu Falasse com a “DOUTORA”, não sem antes lhe ter explicado: “…Que era ela que naquele dia estava naquele lugar (suponho o de chefia), tinha um cliente que queria preencher o Livro de Reclamações (como se isso fosse algo de muito grave, suspeito e até sinistro). Enquanto preenchia a minha reclamação, não pude deixar de ouvir a dita (suponho) Chefe substituta informar a DOUTORA que estava com muita afluência de pessoas, já tinha “fechado” as senhas de atendimento e não sabia se conseguia atender, em tempo útil, os utentes que já estavam à espera;
- De permeio falei (ainda que contrariado) com a tal DOUTORA, trocamos perspectivas da informação que estava disponível na Internet. Ainda que a Senhora tivesse razão quanto ao dia de análise o facto é que qualquer pessoa podia constatar que o tempo médio na Conservatória do Registo Automóvel de Lisboa era o mais baixo de todos os serviços disponíveis. Mesmo que mais demorado no dia em questão, nada justificava o tempo que a seguir se representa: 15 minutos de espera entre números x 67pessoas totalizam 900minutos, ou seja, 17:15H, atendendo a que eram já 12:00H, a este ritmo, sairíamos da Conservatória perto das 05:15 do dia 31DEZ.
Conclusões
- O importante é dar a ideia de eficiência quando se consulta a Internet, depois, no local, voltamos ao Século passado, em que os tempos de espera para tratar de documentação eram para todo o dia, importa levar lancheira e/ou dinheiro para as refeições;
- Os Funcionários Públicos, mais bem vestidos, com um sorriso, mas lá vão dizendo as mesmas coisas: “…não é comigo…”, “…está aí a Chefe…”, “Senhora DOURORA, o que é que eu faço, tenho aqui um daqueles chatos e que se recusa a cumprir as nossas regras?...”. Enfim o mesmo de sempre.
- Grave é entre o que se quer fazer parecer e a realidade. Existem situações caricatas como: só haver um Funcionário que na realidade percebe do assunto (eu ouvi, não me desmintam), pessoas a aguardar sentadas em escadas de metal, secretárias e no chão, (eu vi não me desmintam).
- Uma Senhora que pode ser muito eficaz em qualquer coisa, mas para Chefe e/ou atender público é muito pouco eficaz (eu presenciei e falei com a Senhora não me desmintam).
- Uma DOUTORA que fala com os Contribuintes do alto do pedestal que possivelmente o seu cartão partidário lhe facultou, mas que…paciência. Está mais preocupada em preservar o seu poleiro que em resolver os assuntos de quem paga para ela lá estar.

- Quando o Cartão deCidadão for obrigatório e as televisãoes estiverem a efectuar “Directos” dos locais, decerto teremos uma DOUTORA a dizer: “…Os portugueses são sempre a mesma coisa deixam tudo para a última da hora, não sabem vir atempadamente e quando os Serviços tinham “condições” dignas de os atender…”
- O Funcionalismo Publico no seu melhor, mas sempre com estes “chatos” e cada vez mais exigentes Cidadãos na sua frente a perturbarem.
Post scriptum: Como sempre faço quando me sinto lesado preenchi a reclamação n.º 25 do Ministério da Justiça, Instituto dos registos e do Notariado, IP, Departamento do Cartão do Cidadão - CRAL
Júlio Santos

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Floresta e as Formigas

Era uma vez uma floresta composta por mais ou menos 200 árvores - vá-se lá saber quantas ao certo? Os contadores não se entendiam no final de cada contagem.
Mas isso pouco interessa para a nossa estória.
Essas árvores dividiam-se em cinco grandes grupos, a dividi-los existia a tão preciosa água, elemento de vital importância para a sobrevivência das árvores e dos que delas dependiam.
Uns grupos tinham mais árvores que outros e umas árvores também eram maiores que outras. Não tanto pelo seu tamanho, mas pela sua importância existiam umas árvores com mais influência no seu grupo e também na floresta que outras. Essa importância ia-se alterando com o passar dos tempos.
A Nossa Árvore, era pequena, todavia pertencia a um dos grupos conhecidos há mais tempo da floresta e apesar da sua dimensão, no passado, tinha tido imensa influência e era merecedora do respeito de muitas das outras árvores.
Era uma árvore forte, muito forte, muito próximo da água, tão próxima que as outras consideravam mesmo que ela era “dona” de uma grande parte dessa tão preciosa água. Mas ela não dava muita importância a esse facto.
A Nossa Árvore, como todas tinha de ser “cuidada”. Para isso dispunha de um conjunto de animais que iam tendo mais ou menos importância no seu tratamento ou relativamente aos outros animais que por ali estavam.
Esses animais eram escolhidos de entre todos, mas para tal, propunham-se a fazer parte do escrutínio. Caso ganhassem, podiam até mudar de espécie, deixar de ser simples formigas ou moscas e passar a ser grandes pássaros (vulgarmente designados de passarões).
Uma coisa eles sabiam quanto maior importância tinham para a Árvore e para os seus cuidadores, maiores eram, mais vistos e apontados eram.
As formigas, a maior comunidade da Árvore, logo à frente das moscas, olhavam para os mutantes com desconfiança. Mas eram elas que com o seu voto e trabalho faziam os pássaros crescer, crescer, alguns de tanto crescer até já nem se reconheciam a eles próprios.
Mas as formigas lá estavam, nas suas árduas tarefas de levar e trazer sabe-se lá o quê. Ninguém reparava mesmo no que elas faziam. Mas se estavam na árvore, logo tinham de contribuir para a árvore. Era este o entendimento mais ou menos subjacente à existência das formigas.
As moscas, em muito menor número que as formigas, cerca de 10%, mas mais espertas, faziam o que lhes dava prazer, algumas vezes…até trabalhar. Porém, recolhiam mais benefícios da árvore que as formigas e, pela sua quantidade, mais que os pássaros.
Contudo, os pássaros eram os mais visíveis. Qualquer folha que tirassem à árvore fora da sua missão de afugentar “pragas” era imediatamente divulgada pelas moscas. Essa era também uma das suas missões das moscas para além de divulgar o que se passava na árvore, algumas também tinham a missão de, capturar, julgar e castigar os restantes animais identificados como maus para a árvore. Todavia, as moscas escolhiam bem os pássaros a denunciar. Consoante a época do ano, assim faziam o seu alarido. Embora elas, moscas, iam-se servindo do que estava à disposição o ano inteiro.
E as nossas formigas?
Essas lá estavam, sempre a trabalhar, mal paravam para falar umas com as outras. Escolhiam os pássaros e aturavam as moscas.
As formigas recolhiam os restos da casca velha caídos à volta da Árvore, alimentavam-se do musgo que crescia á sombra da Árvore.
Um dia, um conjunto de formigas percebeu que a Árvore não era tão forte que resistisse às suas dentadas. Que quando mordiam a Árvore os pássaros não viam e as moscas pouco se importavam.
Então as Formigas constituíram “Um tecido Empresarial” denominado “Pequenas e Médias Empresas - PME”.
Essa força, passou a ser reconhecida pelos pássaros e pelas moscas. Especialmente quando era preciso atacarem-se entre si.
Quando as moscas, para sacarem mais um pouco, sem nada fazerem, em sede de negociação com os pássaros, afirmavam serem elas quem, com os seus encontrões, alimentavam as PME (formigas).
Os pássaros afirmavam o contrário. Eles sim é que com as folhas que lhes caíam dos bicos alimentavam as PME.
As PME pelo contrário aceitavam ambas as ajudas, mas não precisavam delas para nada. As PME alimentavam-se agora da própria Árvore, já nada lhe davam, só retiravam, retiravam, minavam o seu interior e exterior.
Estas tarefas feitas “às escondidas” das moscas que estavam preocupadas em transformar-se em pássaros e estes preocupados em serem colocados em Árvores mais importantes ou não serem comidos por outros maiores, não ligavam ao minar das formigas.
E assim, um dia, algumas moscas e pássaros mais velhos e sem ambições de melhorar o seu nível começaram a r reparar nas formigas. Nessa altura agarraram-se a tudo o que podiam para denunciar as tarefas lucrativas das formigas.
Denunciavam a todo o brado o quanto algumas delas estavam gordas, mas não se mutavam, não se transformavam nem em moscas, nem em pássaros, porquê?
Porque era muito mais rentável, menos cansativo e menos exposto ser formiga do que mosca ou pássaro.
Então, algumas moscas e pássaros começaram a rondar as formigas, não para as comer ou castigar, mas para começarem a aproveitar-se dos seus restos. Então formaram Bancos e começaram a oferecer às formigas produtos de bom rendimento. Mas os Bancos faliram os produtos eram falsos e as formigas ficaram aborrecidas, mas não se importaram muito, foram anunciadas ajudas e mais…podiam continuar a sua actividade (que mal sabiam as moscas e pássaros) que era comer a Árvore.
E essas continuaram a comer a comer a comer e agora, já há muitas moscas e pássaros a dizer:
A ÁRVORE ESTÁ A CAIR, ALGUÉM PODE AJUDAR?
Deu-me vontade de escrever esta estória quando li e ouvi Doutos Senhores (alguns Moscas, outros que foram Pássaros) dizer que Portugal está no fundo, não tem salvação.
Mas quando tiveram hipótese, quando estavam a “voar” não legislaram para impedir as formigas de vir a comer a Árvore e agora, vêm, tal paladinos da desgraça, dizer em grandes parangonas: A ÁRVORE ESTÁ A CAIR.
Não fizeram o que deviam no passado, agora tenham ao menos a hombridade de estar calados.
Aos meus amigos
Júlio Santos
Dez2009