quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Floresta e as Formigas

Era uma vez uma floresta composta por mais ou menos 200 árvores - vá-se lá saber quantas ao certo? Os contadores não se entendiam no final de cada contagem.
Mas isso pouco interessa para a nossa estória.
Essas árvores dividiam-se em cinco grandes grupos, a dividi-los existia a tão preciosa água, elemento de vital importância para a sobrevivência das árvores e dos que delas dependiam.
Uns grupos tinham mais árvores que outros e umas árvores também eram maiores que outras. Não tanto pelo seu tamanho, mas pela sua importância existiam umas árvores com mais influência no seu grupo e também na floresta que outras. Essa importância ia-se alterando com o passar dos tempos.
A Nossa Árvore, era pequena, todavia pertencia a um dos grupos conhecidos há mais tempo da floresta e apesar da sua dimensão, no passado, tinha tido imensa influência e era merecedora do respeito de muitas das outras árvores.
Era uma árvore forte, muito forte, muito próximo da água, tão próxima que as outras consideravam mesmo que ela era “dona” de uma grande parte dessa tão preciosa água. Mas ela não dava muita importância a esse facto.
A Nossa Árvore, como todas tinha de ser “cuidada”. Para isso dispunha de um conjunto de animais que iam tendo mais ou menos importância no seu tratamento ou relativamente aos outros animais que por ali estavam.
Esses animais eram escolhidos de entre todos, mas para tal, propunham-se a fazer parte do escrutínio. Caso ganhassem, podiam até mudar de espécie, deixar de ser simples formigas ou moscas e passar a ser grandes pássaros (vulgarmente designados de passarões).
Uma coisa eles sabiam quanto maior importância tinham para a Árvore e para os seus cuidadores, maiores eram, mais vistos e apontados eram.
As formigas, a maior comunidade da Árvore, logo à frente das moscas, olhavam para os mutantes com desconfiança. Mas eram elas que com o seu voto e trabalho faziam os pássaros crescer, crescer, alguns de tanto crescer até já nem se reconheciam a eles próprios.
Mas as formigas lá estavam, nas suas árduas tarefas de levar e trazer sabe-se lá o quê. Ninguém reparava mesmo no que elas faziam. Mas se estavam na árvore, logo tinham de contribuir para a árvore. Era este o entendimento mais ou menos subjacente à existência das formigas.
As moscas, em muito menor número que as formigas, cerca de 10%, mas mais espertas, faziam o que lhes dava prazer, algumas vezes…até trabalhar. Porém, recolhiam mais benefícios da árvore que as formigas e, pela sua quantidade, mais que os pássaros.
Contudo, os pássaros eram os mais visíveis. Qualquer folha que tirassem à árvore fora da sua missão de afugentar “pragas” era imediatamente divulgada pelas moscas. Essa era também uma das suas missões das moscas para além de divulgar o que se passava na árvore, algumas também tinham a missão de, capturar, julgar e castigar os restantes animais identificados como maus para a árvore. Todavia, as moscas escolhiam bem os pássaros a denunciar. Consoante a época do ano, assim faziam o seu alarido. Embora elas, moscas, iam-se servindo do que estava à disposição o ano inteiro.
E as nossas formigas?
Essas lá estavam, sempre a trabalhar, mal paravam para falar umas com as outras. Escolhiam os pássaros e aturavam as moscas.
As formigas recolhiam os restos da casca velha caídos à volta da Árvore, alimentavam-se do musgo que crescia á sombra da Árvore.
Um dia, um conjunto de formigas percebeu que a Árvore não era tão forte que resistisse às suas dentadas. Que quando mordiam a Árvore os pássaros não viam e as moscas pouco se importavam.
Então as Formigas constituíram “Um tecido Empresarial” denominado “Pequenas e Médias Empresas - PME”.
Essa força, passou a ser reconhecida pelos pássaros e pelas moscas. Especialmente quando era preciso atacarem-se entre si.
Quando as moscas, para sacarem mais um pouco, sem nada fazerem, em sede de negociação com os pássaros, afirmavam serem elas quem, com os seus encontrões, alimentavam as PME (formigas).
Os pássaros afirmavam o contrário. Eles sim é que com as folhas que lhes caíam dos bicos alimentavam as PME.
As PME pelo contrário aceitavam ambas as ajudas, mas não precisavam delas para nada. As PME alimentavam-se agora da própria Árvore, já nada lhe davam, só retiravam, retiravam, minavam o seu interior e exterior.
Estas tarefas feitas “às escondidas” das moscas que estavam preocupadas em transformar-se em pássaros e estes preocupados em serem colocados em Árvores mais importantes ou não serem comidos por outros maiores, não ligavam ao minar das formigas.
E assim, um dia, algumas moscas e pássaros mais velhos e sem ambições de melhorar o seu nível começaram a r reparar nas formigas. Nessa altura agarraram-se a tudo o que podiam para denunciar as tarefas lucrativas das formigas.
Denunciavam a todo o brado o quanto algumas delas estavam gordas, mas não se mutavam, não se transformavam nem em moscas, nem em pássaros, porquê?
Porque era muito mais rentável, menos cansativo e menos exposto ser formiga do que mosca ou pássaro.
Então, algumas moscas e pássaros começaram a rondar as formigas, não para as comer ou castigar, mas para começarem a aproveitar-se dos seus restos. Então formaram Bancos e começaram a oferecer às formigas produtos de bom rendimento. Mas os Bancos faliram os produtos eram falsos e as formigas ficaram aborrecidas, mas não se importaram muito, foram anunciadas ajudas e mais…podiam continuar a sua actividade (que mal sabiam as moscas e pássaros) que era comer a Árvore.
E essas continuaram a comer a comer a comer e agora, já há muitas moscas e pássaros a dizer:
A ÁRVORE ESTÁ A CAIR, ALGUÉM PODE AJUDAR?
Deu-me vontade de escrever esta estória quando li e ouvi Doutos Senhores (alguns Moscas, outros que foram Pássaros) dizer que Portugal está no fundo, não tem salvação.
Mas quando tiveram hipótese, quando estavam a “voar” não legislaram para impedir as formigas de vir a comer a Árvore e agora, vêm, tal paladinos da desgraça, dizer em grandes parangonas: A ÁRVORE ESTÁ A CAIR.
Não fizeram o que deviam no passado, agora tenham ao menos a hombridade de estar calados.
Aos meus amigos
Júlio Santos
Dez2009

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