sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Lei anti-tabaco: - Fundamentalistas!? – Quem, os não fumadores? - Então e os Migueis?

Até 2002 fumava uma média de três maços de tabaco por dia. Comecei como muitos da minha geração a fumar aos 10 anos, por snobismo, vaidade e convencimento de que era um atalho para a conquista do sexo oposto (estava redondamente enganado).
Aos 42 anos foi-me diagnosticado um enfarte coronário que após um conjunto de confusões e tratamentos infrutíferos, me conduziu à mesa de operações onde fui submetido a três by pass.
Daí resultou que tenho uma serie de condicionalismos na minha vida, despendo de um valor regular para a farmácia, tenho os seguros de vida mais caros 100% que o normal, etc. etc..
É evidente que as escolhas foram minhas e todos temos direito às nossas escolhas. O que acontece, é que as nossas escolhas, por puro e duro egoísmo, afectam os que nos rodeiam, mas nós quando somos fumadores vivemos num verdadeiro estado de “quero lá saber”. Fiz muitos dos que gosto e outros que nem sequer conhecia suportarem o meu fumo. A TODOS O MEU HUMILDE E SENTIDO PEDIDO DE PERDÃO.
Nestes anos – pós-operação – mesmo tendo provas do que o que acto de fumar prejudica a saúde aguentei, como muitos, o fumo dos outros. Por fim, só depois de muitos recuos cobardes por parte dos nossos políticos, lá foi aprovada a Lei anti-tabaco.
Uma Lei desta índole não pode ser dúbia e/ou ter excepções; o tabaco mata, os fumadores activos e passivos!
Tenho assistido a pedidos, abaixo-assinados e pressões de grupos económicos, para que deixe de ser proibido fumar aqui ou ali. Depois da polémica dos Casinos, é agora a Associação da Restauração a querer uma excepção. Alegam redução de clientes: É MENTIRA! UMA GRANDE MENTIRA!
Dirão vocês que me vão ler: “está a chamar-lhes mentirosos, então prove, apresente provas da sua afirmação.”
Meus caros, eu respondo-vos com as mesmas provas desses reivindicadores. Eles também não conseguem fazer prova que a redução de clientes está relacionada com a entrada em vigor da Lei anti-tabaco. Existirão muitas razões pelas quais as pessoas, desde o princípio do ano, não vão tanto a restaurantes, bares ou discotecas e uma delas:
É A FALTA DE DINHEIRO! Não a proibição de fumar.
A assiduidade a estes espaços em Janeiro está, este ano, como em todos os anteriores, a sofrer a depressão pós-Dezembro, (as pessoas gastam demasiado dinheiro na altura das festas). Esta é verdadeira razão do abaixamento de clientes nos espaços de restauração e congéneres.
Os proprietários desses espaços o que pretendem é retirar aos seus clientes o desconforto de terem de sair das instalações para fumar. Então e eu e tantos outros que, muitas vezes, para termos um pouco de ar respirável em determinados locais tivemos, durante anos, de vir comer e beber para as esplanadas, inverno atrás de inverno?
Em todos estes anos em que não existia o imperativo legal, nunca vi um só proprietário a ter coragem de dizer: “Na minha casa não se fuma para respeitar os clientes não fumadores”. Mesmo nas casas com grandes áreas muito raras eram as que tinham espaços de não fumadores - não era obrigatório por Lei – no entanto, agora, com a aplicação da Lei anti-tabaco a preocupação dos diversos responsáveis desde as empresas aos restaurantes, bares e discotecas com área para tal, o que fizeram foi a correr muito criar áreas de fumadores.
Como se isso não bastasse, hoje, por via das pressões das indústria do tabaco, em todos os filmes e/ou series televisivas com origem nos EUA (a maioria que os nossos jovens vêem) existe uma doentia apologia ao consumo do tabaco. Reparem que pelo menos um dos protagonistas é fumador e fuma desalmadamente, e é frequente verem-se jovens, muito novos, também a consumir tabaco (publicidade nada dissimulada).
A somar a isto tudo existem “fazedores de opinião” como por exemplo o Dr. Miguel Sousa Tavares que vimos com frequência indignar-se com tanta coisa que afecta a humanidade, mas defender e se necessário “com o sacrifício da própria vida” a imediata suspensão da Lei para ser repensada. Outros há que pedem a demissão do Director Geral da Saúde.
Na mesma linha de pensamento e direito, eu reclamo:
- A imediata demissão de todos os Órgãos do Estado (empresas participadas incluídas) dos políticos que directa e/ou indirectamente atrasaram o aplicação da Lei hoje em vigor;
- A retirada dos filhos a todos os pais fumadores;
- A imediata proibição de venda de tabaco em locais públicos;
- A imediata proibição da plantação de tabaco em todo o território Nacional.
Estas sim eram medidas anti-fumadores. A actual Lei é, apenas, contra o consumo onde os fumadores têm de privar com não fumadores. Por isso Senhores Fumadores, TENHAM VERGONHA E CALEM ESSAS RECLAMAÇÕES E RENVINDICAÇÕES.
Júlio Santos
FEV08

4 comentários:

A.Mota disse...

Fui fumador durante 14 anos,pelas mesmas razões apontadas por si,e quando senti que o que fazia era uma autentica estupidez,que estava a fazer muito mal á minha saúde e a quem comigo convivia,parei.Não consigo entender,como é que alguns egoístas e ego centristas,conseguem vir a publico defender o consumo de tabaco,será que nunca viram (ao vivo ou na t.v.)como ficam os pulmões de um fumador?será que não tiveram na família alguém que faleceu com cancro nos pulmões? para os falsos moralistas defensores dos lobbys das tabaqueiras e afins,para eles,acho que esta lei ainda está muito branda.

Hugo disse...

Por estupidez, voltei a fumar no dia em que me separei. Agora voltei novamente a deixar de fumar, ainda não sei porque voltei a fumar, mas cada vez sei mais porque não devo Fumar. Dá-me um enorme prazer ir passear com a minha namorada e estarmos num sitio sem fumo, seja para comer ou simplesmente para lazer.

Depois, com o dinheiro que não gasto, já me deve dar orçamento para ter outras coisas.

Certo que é difícil deixar de fumar, mas tudo passa pela nossa cabeça. Só custa o 1º dia, depois é só lembrar que já passou um dia, também podem passar 2 sem fumar e por ai fora... agora quase não me lembro do tabaco e quando me lembro é com a sensação de alívio da prisão em que me encontrava.

PS: Sr. Julio, parabéns por mais uma boa iniciativa.

Unknown disse...

O problema são sempre os fundamentalismos. Eu agora já posso ir ao café com o meu filho de 3 anos pois sei que não o vou submeter a fumo. Em todo o caso acho que a Lei se fosse como em Espanha seria mais democrática (apesar de mais segregacionista), a opção de deixar a cada dono de café, restaurante ou outro espaço similar a opção de ser espaço fumador ou não fumador. É claro que neste caso os direitos de quem lá trabalha não seriam salvaguardados como na nossa Lei. Em todo o caso esta semana estive nod Aeroportos de Lisboa, Estugarda, Munique e Palama de Maiorca, e só este último apresentava uma solução condigna, (os fumadores não são criminosos), parecia que estavam em cabinas telefónicas ou jaulas, só em Palma, tinham uma área isolada que era com um Café normal com mesas e cadeiras.Volto ao princípio, os fundamentalismos são MAUS, sejam de que lado forem, o MST de quem aprecio muito os comentários é Fundamentalista neste aspecto. Já agora fico contente de saber que o MST, Eu e os demais comentadores deste blogue, cronistas de jornais e de televisão não encontram melhor assunto para opinar do que uma Lei da República, que apenas tem de ser cumprida, isto quer dizer que tudo o resto está bem. "Tudo está bem no melhor dos Mundos". Já agora eu não sou fumador, mas de vez em quando gosto de um cigarrinho.

PS disse...

Olá Júlio.
Antes de mais, felicito-te pela vitória sobre o vício, contudo, gostaria que ao teu jeito abordasses aqui uma tão importante questão que se coloca há muito tempo;
Com a pesada carga de impostos que temos sobre os produtos de tabaco, e com a maioria dos fumadores conscientes do mal que nos corre nas veias (sim, porque só quem já está cansado do vício se dá conta do mal que está a cometer) porque é que o estado não é forçado a custear um programa de reabilitação para fumadores? quanto (se é que é possivel contabilizar) é que eu, tu, e outros fumadores já metemos nos bolsos do estado? e quanto é que desses impostos serviu para teres um retorno nem que seja numa consulta anti tabágica? por mim, nada até à data! E a que produtos recorre frequentemente cada governo para nos sacar mais uns trocados para que estes possam financiar os seus delirios?Recorrem aos prudutos para queimar; gasolina e tabaco e sabes porquê? Porque simplesmente é fácil mexer no que é necessário e no vicio que adquirimos também à custa de falta de politicas de prevenção junto dos adolescentes!
Um abraço
Paulo Simão